sábado, 18 de fevereiro de 2012

   Me lembro de quando tínhamos catorze anos, e planejávamos a vida feito loucos. Tudo era perfeito.
Morar juntos, fazer bagunça, dividir nossas vidas, unir nossas vidas, o tudo, o pra sempre...
Passávamos horas, dias, semanas, brincando de refazer o mundo do nosso jeito.
   Crescendo, crescendo, alguns foram embora, esqueceram, desacreditaram... Ficaram apenas dois de nós. Os dois mais fortes e mais puros. A pureza da loucura. Dois acreditando, fazendo, insistindo. Passamos por muito, os dois.
   Hoje, com vinte, nos vendo concretizar tudo aquilo, passo a ter mais fé na fé. Aquela fé adolescente, fé revoltada, de fazer querer engolir o universo inteiro.
Tijolinho por tijolinho, as coisas estão se moldando. Parece mágica. Agradeço pela fé, pela amizade, pela saudade, pelos dias enjoadinhos.
   Quem diria, né?



O mundo é mesmo muito engraçado, senhoras e senhores.



Pro dia nascer feliz - Barão Vermelho

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Quero que todo amor doa mais.



     Meu amor,
escrevo porque parti. Parti deixando a casa e o conforto. O mundo é grande e tem olhos profundos. A saudade me corroeu de dentro pra fora. Estou seco. Estou feito de falta. E escrevo rápido e de olhos fechados, para que a selvagem não me corroa a tua lembrança.
   Imagino você e a casa. Sinto em meus dedos a textura das rachaduras das paredes azuis, enquanto passeio entre as fendas largas do céu. Nunca fui tão livre, embora ainda preso ao teu amor, que não me deixa em paz. Quero enforcar-me em teus cabelos. Vejo-te sorrir nos fios da estrada.
    Tudo é incerto. Os talheres. As cortinas. As pessoas. O atrito. O trilho. O amor. O trem. O tremor. O tremor. O tremor.
    Vez ou outra, uma música me faz pensar em voltar. Volto. Se tiver um fim, eu volto. Se eu encontrar aquilo que essa impiedosa vontade pede, volto. Volto assim que encontrar o ponto onde tudo termina. Imagino que seja feito de jogos de luz, cores e mais cores de luz, escrevendo no céu que, aquele é ponto no qual deve-se despir de toda sanidade. Inocência! Loucura! Quero ser louco.
     Beijo-te os olhos enquanto dormes. Beijo-te e materializo-te ao meu lado. Beijo-te, bela, no retrato. Retrato pequeno para o que sinto. Frágil, está desfazendo-se em beijos.
     Amor, perdoa que tenha partido. Perdoa que te ame assim, com altas febres. Amor de loucura, queria rasgar-te ao meio. Queria chorar em teu colo, todo esse vento frio. Queria respirar-te. Perdoa, amor, quero ainda enlouquecer-te.
     Beijo-te em teu descontrole.


Trem de doido - Clube da esquina.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Pedido.

"Desejo uma vida mais macia."


- Ela queimou o papel. O universo construiu a realização.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Argumento

   Até hoje eu sinto como se nunca tivesse saído da sua casa àquela noite. As cenas passam na minha cabeça e eu continuo sem entender onde cometi o primeiro erro.
   Eu não tenho raiva de você, porque eu adoro me lembrar da sua risada. Aquela risadinha tímida de quando a gente lia o pensamento um do outro. O seu mau-humor era muito engraçado. Era bom.
   "VAI DORMIR! VAI DORMIR! VAI DORMIR!" - Era terrível desligar o telefone.
   Pra variar, ontem perdi o sono, e fiquei pensando nas coisas legais que aconteceram. Pensei em um bom motivo pra voltar. Acho que estou triste, porque as coisas que passamos juntos, não foram suficientemente fortes pra criar coragem pra um retorno.
   Eu andei pensando que não voltaria a ficar alegre nunca mais, mas tem muita gente no mundo. Muita possibilidade. Pode ser até que eu seja feliz. Você sabe, a vida tá mudando e a felicidade me seduz a cada dia mais.
   Ando em frente. Espero que você esqueça o caminho de volta. O novo é bom. Vamos apostar nisso e deixar os reencontros ao acaso.
   Penso em você, porque te esqueço todos os dias.
   Fique bem. Bem longe. Mas fique bem.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Passarinha

Já postei para e sobre você. Você me conhece. Eu não gosto da mesma coisa dita mil vezes.
Irritadinha.
...
Que nem você.
Só achei engraçado dizer que, após anos respirando as nossas diferenças mais gritantes (com certa dificuldade, admito), agora, no vazio da casa, tento achar alguma coisinha de você em mim.
(Vazio de mim)
Além dos olhos. Mas que olhos teus esses meus! Da mesma solidão. Quantos anos de solidão?
Verde-outono.

Não foi fácil achar. Abrir mão do orgulho e dizer que sou pecinha de você. Coisa tua. Culpa tua.
Achei esse orgulho. Assim somos. Mulheres fortes. Carinho pra quê? A vida nos atropela. Mas seria tão bom um carinho...

O espelho já cansou de me ver ensaiar o que dizer na tua volta.
Nada parece o bastante pra abafar o som de tantos anos de silêncio.

Mas sabe, é amor mesmo... O que eu sinto... Você já sabe, acho...
Estou tentando me entender. Te entender. Acho que vou abaixar as armas agora.
Me sinto tão cansada sem você.
E meus-teus olhos, mais sozinhos do que nunca.
Faz tanto tempo que não olho nos seus olhos, né?
É estranho... A gente não se olhar...

Vou lavar roupa hoje. Eu sei que se você estivesse aqui, ficaria louca ao me ver tacando tudo na maquina.
Mas olhe, tô dando o meu melhor.
Eu chorei. Mas foi bem pouquinho. Porque a gente é assim. Eu vou segurar o teto, no seu lugar. Vou segurar na mão de todo mundo e ninguém vai cair. Eu tomo conta. Que nem você.
Espero que saiba, pequena, que tua sombra é uma das maiores que já vi. Teus sapatos não me cabem. Poderia dormir dentro deles. Enormes. Assustadores.

Tô vendo a novela. Anoto algumas coisas, porque você sabe que minha cabeça é fraca. Te contarei tudo.
Sim, tá pegando fogo.

Chega de sustos, certo? Precisamos respirar.
Fico feliz em saber sobre sua humanidade. Podemos viver bem agora. Não suportava conviver com seu ar de fortaleza, massacrando meu jeito medroso de olhar a vida.
Volto ao ventre.

Beijo-te com ternura.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

gato velho.

   Tem dias que a gente se sente como um gato velho, gordo e cansado, sentado no primeiro degrau de uma escada enorme, pensando no quanto quer subi-la, mas a preguiça, o cansaço, as dores nas patas, não permitem. Tem de tudo lá em cima, água fresca, brinquedos novos, petiscos para gatos, uma adorável bolinha com guizos, e você, gato velho, se imagina com tudo isso em mãos (ou em patas, como quiserem), enquanto lambe seu pelo gasto e desbotado, ainda no primeiro degrau.
   Ah, como eram bons aqueles dias em que se tinha toda a energia para subir escadas aos pulos, correr, perseguir bichinhos menores, se esconder... E quão brilhantes e saudáveis já foram esses pelos, brilhantes, de fazer inveja a qualquer gato de comercial de whiskas.
   Ando vivendo os dias mais gatos-velhos da minha vida. Ao menor descuido, cochilo, como quem desmaia de repente. E sonho. Sonho com o topo daquela escadaria imensa. Sonho em estar lá, como quem se encontra no topo do mundo, cheia de fôlego, brincando com minha bolinha de guizos, que num piscar de olhos, rola escada a baixo. É aí que acordo e vou roçar minhas costas em algum encosto de sofá.






Mas que diabo de mania é essa que eu tô agora de animalizar meus sentimentos!? Cruzes...

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Um dia de gato

  Hoje, eu estava deprimida, caminhando pela rua de manhã. Chegou, então, um gatinho malandro, e começou a pular e tentar agarrar meus fones de ouvido que estavam pendurados no bolso. Pulou em mim, se esfregou nas minhas pernas, se jogou na minha frente como quem diz: "Me pega no colo, por favor! Eu preciso de um carinho!"
  Eu o peguei e fiquei um bom tempo ali parada na rua fazendo carinho e brincando com ele.
Ele realmente precisava daquele carinho. E eu também.
  Acabei perdendo a hora. Acabei ganhando um amigo que, mais tarde, se despediu de mim sem tristeza, como quem diz "A gente se vê!" e voltei pra casa com um sorriso bobo grudado na cara, tentando descobrir que diabos de tom mais lindo de azul era o daqueles dois olhos tão curiosos do mundo. Azul de céu. Azul de lembrança boa.
  Concluí: O mundo deveria ser mais gatinho, mais cachorro, mais passarinho... O mundo deveria ser mais carinho.


Uma fotografia que tirei, para não esquecer meu novo amiguinho

Beatles - All you need is love.












Love is all you need.

Eu passo, tu pássaro.



    E passei meses sem publicar algo que realmente houvesse emergido desse nó de sentimentos e emoções que tenho dentro de mim. Passei meses sem sentir, sem me emocionar. Meses e mais meses andando segura sobre meus pés, como se o mundo fosse uma superfície perfeitamente lisa e eu, um corpo em movimento retilíneo, uniforme, infinito, sem mudar de direção, sem trocar de sentido. Sem fazer sentido.
   Não posso mentir e dizer que não achava bom. A gente sempre acha bom quando não há susto ou sobressalto. Ou acha que acha! Porque lá no fundo, aquele cupinzinho que mora n'alma da gente, bichinho chato, sedento de aventura, te corrói e grita que quer sair da zona de conforto.
   E foi assim, cansada de ser corroída enquanto atropelava a vida sem olhar para os lados, resolvi respirar fundo e cravar meus incisivos no mundo. "Pro inferno o retilíneo, eu quero andar torto!", e saí feito louca pronta pra embarcar em qualquer maluquice.
   E existe maluquice maior que gostar de alguém? Existe! Gostar de alguém que está longe e saber o quão louco isso é!
   Maluquice é quando é terça feira, seis horas da manhã, o termômetro da rua consta 8°C, você está dentro do ônibus, indo para a aula de física, e recebe uma mensagem de celular, dizendo coisinhas doces... E você sorri como se estivesse em uma rede, em um sábado ensolarado e preguiçoso, ouvindo Caetano, enquanto observa as formiguinhas organizadas, marchando em fila pelo gramado. Maluquice é pegar-se pensando na pessoa, enquanto tenta estudar. É perder horas de sono. É vontade de vomitar, de chorar, de rir, de colocar aquele ser tão querido dentro da bolsa e só tirar pra olhar e dizer: "Tá aqui, tá comigo. Fica aí pra sempre, tá?" - Mas tá longe. Mas não dá.
    Tenho um professor (cujos óculos podem escanear a alma das coisas, aposto), que diz o seguinte: "O ser humano é assim: Olha o passarinho e se encanta com aquele canto lindo. E gosta tanto daquilo, que coloca o passarinho numa gaiola. E quando vão em sua casa, ele diz: 'Olha como canta lindo meu passarinho'. Mas passarinho em gaiola não canta. Ele grita, ele chora, ele agoniza."
    E foi assim, me encantei. E quis prender. Na gaiola mais linda. Mas quis prender. E cheio de instinto passarinho, ele fugiu assustado com a ira do meu gostar, que fazia o chão vibrar sob seus pézinhos. Em pensar que, por alguns segundos ficou pousado tranquilo no meu ombro e parecia até que adormeceria ali.
    E agora, nesse silêncio todo que ficou, tenho tempo pra pensar sobre o gostar, sobre o que é canto e o que é choro, sobre ter para si e ter ao lado. E faço curva, paro, salto, e vejo como o mundo é acidentado. Não dá pra desligar de novo. Tão bom sentir. Tão bom ser algo além de um corpo de massa x, seguindo sempre em frente e sem rumo. Mesmo com a fuga dos pássaros, com a culpa, com as terças-feiras frias que voltam a ser elas mesmas. Tão bom perceber. Tão bom voltar a escrever e sentir os olhos arderem enquanto exponho a verdade pra mim mesma.
     Tchau, bichinho. Livre quando quis ir. Bem-vindo quando quiser voltar.




quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Warm


"Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu...
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...
E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo..."
(Cora Coralina)

E nesse frio gelado e desalmado, só eu para pensar em poesia.